terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ah, Baixada!

Como esquecer aqueles caminhos íngremes que nos levam para o paraíso da dicotomia? Na região da vida dura, das meninas e mulheres que labutam à margem, não só do córrego e das palmeiras, a intelectualidade ronda as esquinas, mancha páginas e roda as oficinas. Um, dois, três jornais incluindo o que nunca saiu da memória. A lembrança do velho e bom Diário da Manhã até hoje nos embriaga de saudade. Tempo da linotipo, dos dedos calejados pela datilografia, do lambe-lambe na praça, do apito da cervejaria, dos operários, da antiga fábrica que trouxe renda e fama para a cidade.
Como esquecer a lenda da serpentina subterrânea? Até hoje dizem que era por ela que passava o chopp de Ribeirão Preto. Saía da fábrica, subia a ladeira e chegava ao Pingüim através da serpentina. Feito na hora, na temperatura certa. Eis o motivo da fama.
Eta região das sensações avassaladoras!
Como esquecer as deliciosas manhãs, tardes, noites e madrugadas por ali vividas?
Mas é pela Baixada que rolam as lágrimas quando se sai de ônibus de Ribeirão em busca de novos horizontes. Tudo bem. É por ali também que o pranto se acalma, quando o mesmo ônibus traz de volta os filhos da cidade.
Tem ainda os visitantes que por ela chegam. E não é preciso andar muito para se deparar com encantos da região. Um bar de Porta Aberta para as noites sem fim, um mercado de boas surpresas e quinquilharias, caldo de mocotó para repor as energias, um dedo de prosa com as meninas, escola de qualidade e filosofia de botequim, batom e casas vermelhas, casarões que marcam época, casas de baianos e da Bahia, brechós, armarinhos, móveis usados, um pronto socorro, uma locomotiva, gente chegando, gente partindo, gente pedindo, gente sorrindo.
A Baixada pulsa. Sem perder a validade, sem perder a identidade.
É nobre, é única. É o coração da cidade delineado por palmeiras imperiais.
Texto de Eliana Puga publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

Nenhum comentário:

Postar um comentário