quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Belas Artes Vai Fechar

Durante muitos anos os arautos das tragédias proclamaram ao mundo o fim do cinema. O surgimento da televisão era o principal motivo para que a indústria do cinema, que ainda engatinhava, acabasse.
Os anos passaram, a televisão cresceu, ficou colorida, ganhou acessórios como vídeos, cds e dvds, e o cinema não acabou e nem vai acabar, mas, como tudo nessa vida, ele mudou e, pelo jeito, continuará mudando. 
As salas de cinema foram diminuindo, sairam dos centros e das ruas da cidade e viraram  conjuntos de salas em Shopping Center ou espaços grandes e com infra-estrutura. E o motivo das mudanças foi o mesmo de toda empresa em qualquer lugar do mundo, adaptação a nova realidade econômica.  É muito mais eficiente e confortável estar num Shopping, com  estacionamento e segurança, dois itens que são cada dia mais importante em qualquer sociedade.
Agora, chegou a vez de o Cine Belas Artes em São Paulo fechar as portas. Alias,  isso ocorre depois de ser anunciado por mais de 2 anos, desde que o banco HSBC deixou o patrocínio do projeto.
Hoje, na Folha de São Paulo, o cineasta Ugo Giorgetti, no final do seu artigo disse: "Não vou sentir saudades do Belas Artes, no fundo, é saudades de mim, nele". Eu penso que ele têm toda razão, afinal, o Belas Artes foi importante e cumpriu a sua função, principalmente depois dos anos 1980, quando se tornou um conjunto de salas multiplex (o terceiro do Brasil) que era administrada pela Gaumont, grupo francês que também produzia filmes.  
Mas, ninguém pode negar, que as salas eram mal ajambradas, com problemas sérios de segurança. Não foi nem uma e nem duas vezes que o corpo de bombeiros denunciou a falta de sistemas de escapes e a fragilidade do local no que se refere a segurança.
Depois, mais importante que o local é a idéia e a programação do cinema e isso, salvo algum engano, não deixará de existir. André Sturm, proprietário e responsável pelo espaço Belas Artes desde 2002, disse que já tem lugares em vista para manter o projeto vivo.
Boa sorte ao Belas Artes, que venha um novo!
Belas Artes - 2010
Belas Artes - 1981

José Saramago


"Se tens um coração de ferro, 
bom proveito. O meu, fizeram-no 
de carne, e sangra todo dia."

Clarice Lispector

- Papai inventei uma poesia.
- Como é o nome?
- Eu e o sol. - Sem esperar muito recitou: - "As galinhas que estão no quintal já comeram duas minhocas mas eu não vi."
- Sim? Que é que você e o sol têm a ver com a poesia?
Ela olhou-o um segundo. Ele não compreendera...
...- O sol está em cima das minhocas, papai, e eu fiz a poesia e não vi as minhocas...
- Pausa. - Posso inventar outra agora mesmo: "Ó sol, vem brincar comigo." Outra maior:
"Vi uma nuvem pequena
coitada da minhoca
acho que ela não viu."
- Lindas, pequena, lindas. Como é que se faz uma poesia tão bonita?
- Não é difícil, é só ir dizendo.