segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Coisa de Cinema na Praça XV

Lá pelo começo dos anos 50 (do século 20...) um programa da gente era passear na Praça XV. Para nós, estudantes de fora, a praça era uma referência. Primeiro pelo cinema, ali colado. Segundo (e principalmente) porque era ponto de "footing" (e a gente podia ver ali, desfilando, mimosas flores.
Nos filmes não havia, então, nada melhor que Ingrid Bergman. Em "Por Quem os Sinos Dobram", a sueca, de cabelo cortado rente, estava divina, e freqüentava os sonhos de cada um de nós.
Na praça, a rainha do mel era uma menina também de cabelos curto, e que usava uma sandália cujas tiras se enrolavam canela acima até bem perto do joelho. Não havia quem não imaginasse aquelas tiras, se continuassem território acima, onde é que iriam dar. Sem saber seu nome a gente se referia a ela como "Ingridinha" .
Meus pensamentos de calçada, nessa época, eram um que ia estudar Medicina, e um outro que tinha inclinação mais para negócios. Os três babavam pela Ingridinha e cada um procurava, nos dias de semana, saber coisas sobre ela, na esperança de uma apresentação, um encontro. Acabamos sabendo que ela era filha de um professor de faculdade, e irmã de um colega nosso do Otoniel Mota, o que, teoricamente, tornava possíveis nossos mais maravilhosos sonhos.
A coisa estava nesse pé quando chegou o tempo de férias, cada um seguiu para sua cidade e, na volta, o tempo já tinha andado, surgiram namoradas, Ingridinha saiu provisoriamente do repertório.
Penso, porem, que ninguém se esqueceu dela. Hoje, mais de meio século depois, não posso conferir a informação com o colega que virou médico; ele morreu, num acidente no mar. O outro entrou para o mundo financeiro, deve ter ficado rico, sumiu.
Dias atrás, por um desses atalhos da vida, fiquei sabendo da Ingridinha. Hoje uma senhora, talvez avó de muitos netos, mas segundo me disseram, ainda garbosa, bonitona.
Coisas de cinema.
Texto de José Hamilton Ribeiro publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

Um comentário:

  1. Parabéns pelo trabalho, comecei a ler por Ribeirao, nos remete uma nostalgia deliciosa, grande abraco meu amigo, fiquei feliz com sua pagina cheia de valores.

    Bjo
    MH

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