sábado, 27 de novembro de 2010

A violência e a condição humana

Historicamente, não existe um momento, em tudo que o homem estudou e conhece, onde os seres humanos estiveram em paz completamente.
Basta agrupar os humanos e eles fazem uma guerra ou tomam atitudes violentas entre si.
Agora, é lógico, quase óbvio, que a violência aumenta de acordo com as necessidades que as pessoas passam no seu dia-a-dia. E isso vai desde uma cama quente e limpa para dormir, passando por comida boa e saudável, até ter família e escola de qualidade.
Nos países onde isso foi atingido, que são pouquíssimos nesse mundão de meu Deus, a violência é menor, mais localizada e controlada, mas não deixou de existir.
Agora, na grande maioria do planeta, leia-se; China, Índia, África, Brasil, México e quase todos os países das Américas Central e do Sul, reina a miséria e a desigualdade, de tal forma que a violência é tratada como normal.
Quando acontece um fato atípico, como agora no Rio de Janeiro, aí os olhos da grande maioria voltam para à realidade e, incentivados pela imprensa que está mais preocupada em vender jornal ou espaço publicitário que com a população, entram em choque, pois diariamente, todos se esforçam para não ver essa mesma realidade.
O problema não é apenas do governo, ou da polícia, ou das empresas. Esse problema é de toda a sociedade. O mais comum de se ouvir na hora do desespero é: “eu pago os meus impostos, sou um bom cidadão e não tenho nada a ver com isso”. E, por isso, essa realidade vem se alastrando como pólvora por toda a nação.
Eu moro em Ribeirão Preto, uma das cidades mais ricas do estado mais rico da federação, e posso afirmar, sem medo de errar, que proporcionalmente aqui o nível de violência aqui é o mesmo. A diferença é que Ribeirão Preto é uma cidade aberta, espalhada, e a violência passa por toda cidade, mas está estabelecida na periferia, uma região aonde a grande maioria da população, que paga os seus impostos e não tem nada a ver com isso, nunca foi e nunca irá.
Sabem o que é isso?
É a falta de comunidade. Não sei exatamente quando isso acontece. Mas sei, que em determinado momento do crescimento das cidades, a comunidade deixa de existir. A partir de um momento, você deixa de saber quem vive na comunidade, as pessoas, os seres humanos, deixam de ser semelhantes, e passamos a ver crianças na rua, sem mãe e pai, pedindo esmola, como algo aceitável.
Não é do dia pra noite que a ordem deixa de existir. É todo dia, bem devagar e com requintes de crueldade. Um dia a creche para de atender toda a população do bairro e, ao invés de fazerem outra creche, começam a colocar o dobro, o triplo de crianças no mesmo lugar. Pior, chega um dia em que começam a deixar as crianças sem lugar para ficar. As famílias, para sobreviverem, deixam seus filhos com os parentes, que também não têm condições e, quando percebem, essas crianças estão na rua, sem qualquer tipo de amparo, aprendendo o que não devem, como dizia a minha mãe.
Depois é no ensino fundamental. Todo ser humano com o mínimo de entendimento deseja que seus filhos tenham uma boa escola, aprendam, cresçam e possam ter uma vida melhor. Os primeiros quatro anos de escola são fundamentais para toda a vida do cidadão. Os alunos que aprendem a pensar, raciocinar, nunca mais serão os mesmos. Agora, para isso acontecer, é necessário uma conjunção de fatos de que todos os educadores do mundo têm consciência. Local apropriado, professor bem formado e dedicado, merenda que alimenta e faz crescer, lazer, esporte e, por fim, respeito. Sim, respeito! As crianças aprendem a respeitar sendo respeitadas!
Sabe onde temos esse tipo de educação hoje?
Na elite. Só a elite do mundo tem acesso a uma educação de primeira qualidade. Na cidade de Paris, o berço da civilização educada e moderna, existe um estudo que mostra que os cidadãos parisenses da periferia têm escolas com 50% menos de qualidade que as mesmas escolas nos bairros melhores e mais centrais. Com isso, dá para imaginar o que acontece com o resto do mundo.
A sociedade cresce e fica tão alucinada que separa os cidadãos por castas. Os bandidos, de acordo com a imprensa e com a própria sociedade, não são cidadãos. Pior que isso, parece que são inimigos de outra sociedade ou mundo, que chegaram na nossa comunidade para destruir tudo. Não estou aqui defendendo os bandidos, ao contrário, sou contra a violência e acredito que as pessoas que a praticam devam ser punidas. Mas, por favor, não vamos fingir que somos os bons e eles a encarnação do mal, porque não é assim e nunca foi.
A regra é básica, se desejamos um mundo melhor, precisamos de pessoas melhores. Não dá para querermos um mundo melhor e não cuidarmos das crianças que estão sendo criadas hoje. Em qualquer sociedade do mundo, é tratando as crianças com qualidade que conseguimos ter uma comunidade, cidade ou país com mais qualidade.
“Ame o teu próximo como a ti mesmo”
Foi o conselho que Jesus deu ao povo, quando perguntaram: qual o mandamento mais importante?

Lau Baptista

A Carroça

Certa manhã bem cedo, o meu pai convidou-me para ir ao bosque a fim de ouvir o cantar dos pássaros. Acedi com grande alegria e lá fomos nós, humedecendo os nossos sapatos com o orvalho da relva. Ele se parou numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, perguntou- me:
- Estás a ouvir alguma coisa para além do canto dos pássaros?
Apurei o ouvido alguns segundos e respondi:
- Estou a ouvir o barulho de uma carroça que deve estar a descer pela estrada. - Isso mesmo...disse ele. É uma carroça vazia. Sabes porquê?
- Não, respondi intrigado.
Então, o meu pai pôs-me a mão no ombro e olhou bem no fundo dos meus olhos, E disse:
- Por causa do barulho que faz. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Não disse mais nada, porém deu-me muito em que pensar. Tornei-me adulto. E, ainda hoje, quando vejo uma pessoa tagarela e inoportuna, interrompendo intempestivamente a conversa, ou quando eu mesmo, por distracção, me vejo prestes a fazer o mesmo, imediatamente tenho a impressão de estar a ouvir a voz do meu pai soando na clareira do bosque e me ensinando:
- Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!

Peter, Bjorn & John - Young Folks

Muito bom, muito bom mesmo! A música, os desenhos, a edição, tudo no tempo certo, muito bom!