terça-feira, 4 de maio de 2010

Leopoldo Lima

O Lanches Paulista, restaurante que ficava localizado onde hoje é o Pinguim, ao lado do Theatro Pedro II, tinha no fundo, ao lado do seu salão princípal, um balcão grande, onde eram servidos os pratos rápidos, ou pratos do dia. Foi ali, almoçando no balcãozinho do LP, que eu vi, pela primeira vez, o Leopoldo Lima. Meu pai, fez questão de chamá-lo, me apresentar e mostrar os seus quadros. Eu fiquei olhando aquele homem com cara e jeito de artista. Alto, olhos bem claros, cabelos sem pentear, meio avermelhado, pele clara queimada de sol e uma barba serrada, completamente sem cuidado. Depois fiquei encantado com seus quadros e os admirei por um bom tempo.
Estou com 55 anos, este encontro aconteceu, eu tevia ter 12 anos. Nestes 43 anos, nunca vi um trabalho nem parecido com o do Leopoldo. A grande maioria dos trabalhos que vejo em madeira, tanto de escultores, como de pessoas que trabalham com pirógrafo, não têm a profundidade, perspectiva, ou textura que Leopoldo deixou nas suas obras. Além disso, os trabalhos do Leopoldo Lima, até hoje, são extremamente sensíveis e críticos com a realidade brasileira, por isso, obras muito vivas.
Na praça XV, Leopoldo chegava, esticava um varal e pendurava seus quadros. Ele fazia o trabalho de arte, que envolvia desenhos, entalhes com pedaços de vidro, formão, lixas e pirógrafo. Depois fazia a moldura e por fim, escrevia no verso poemas e textos que nunca eram bem compreendidos pelas autoridades da época. Volta e meia, Leopoldo era obrigado a desmontar sua exposição, ou então, era levado preso.
Como toda personalidade forte e marcante, Leopoldo tinha grandes amigos e grandes inimigos. Era difícil você encontrar alguém que fosse indiferente ao Leopoldo, suas possições e trabalho. Ele ficou famoso naquela época por não vender seus quadros. Só na última hora, quando sua mulher, a Cleusa, ficava muito brava, porque estavam passando necessidades, aí ele vendia uma obra. Varias residências chiques de Ribeirão Preto possuem uma obra do Leopoldo comprado numa dessas horas.
Uma vez, depois de terem amolado muito o Leopoldo para vender uma obra a um interessado, ele ficou revoltado e quebrou a arte inteira. Outra vez, ele fez uma fogueira com varias obras, por estar indignado com algum acontecimento na cidade. Fora isso, Leopoldo deixou um filho sem nome. Em casa, todos o chamavam de Oi, e a explicação era que ele iria escolher o nome quando tivesse idade e entendimento. Fiquei sabendo agora, que o nome escolhido foi Fernando.
Fui na casa dele por umas 3, 4 vezes. Ele gostava do meu pai e sempre me recebia muito bem. Eu ficava lá feito bobo, olhava um quadro, viajava por outro, fazia perguntas e via aquela loucura toda como um outro mundo, outro universo. Cheguei até a comprar um pirógrafo e fiz alguns trabalhos, mas percebi que para chegar perto do trabalho do Leopoldo, iria ser necessário estudar muito.
Os anos foram passando, Leopoldo nunca foi reconhecido por sua arte. Durante um período Leopoldo foi trabalhar em Osasco, acabou voltando pra Ribeirão onde andava muito pelas ruas, passava pela casa dos amigos, mas tornou-se um folclore. Acabou falecendo triste e quase esquecido.
Acho que Leopoldo Lima ainda será descoberto, porque a sua obra é muito mais rica do que imaginamos.
Estes quadros são parte do acervo que é mantido pela Cleusa, sua companheira de uma vida.

Liga Mesmo

Essa é mais uma das imagens fantásticas que correm pela net. Arte pura, mensagem curta e grossa. Como sempre digo, se alguém souber o autor me avise.