sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Frei Betto

Para ti e para mim, um feliz ano-novo. Não mera troca numérica de calendário, de quem mantém o corpo inerte, preso às raízes da insensatez. Nem a sucessão de dias que se repetem no giro cíclico dos gregos antigos, desprovidos de senso histórico. Nem a multiplicação das rugas que se acumulam em nossos corações, oxidadas pela covardia e a saudade de não ser o que se é.
Anseio por um ano-novo capaz de reacender em nós energias generosas, consciência crítica, solidariedade discreta, afetos adormecidos, e a irrefreável vitalidade de quem reinventa o amor a cada dia. Um novo tempo de alegorias, no qual a poesia nos embriague a alma.
Um novo ano despido de soberbas, de evocações ególatras, de rancores asfixiantes e da indizível inveja causada pela felicidade alheia. Ano livre de rumores nefastos, incontinência da língua, indiferença à dor e exacerbação de tudo aquilo que, em nós, esculpe o perfil ácido da desumanidade.
Para ti e para mim desejo um ano-novo em que cada manhã ressoe como o cantar de laudes sob o esplendor de uma revoada de pássaros. E que sejamos despertados pelo afago prenhe de alvíssaras. Sejam os nossos gestos expressões litúrgicas de bem-querer e gratidões.
Não desejo um novo ano de velhos vícios arraigados, como não considerar suficiente o necessário, acumular supérfluos nas gavetas da casa e do coração ou a leniência perante as injustiças. Nenhum ano pode ser novo se arrastamos vida afora nossas almas incendiadas pela ira, o humor de mãos dadas com o rancor, o orgulho como escudo frente aos que apontam nossos erros.
Quero, para ti e para mim, um ano-novo em que a partilha do pão instaure a paz e no qual toda paixão aflore em duradouro amor. Um ano no qual o tempo se desenlace como um tecido fino e transparente, a enlevar-nos na rota do transcendente. Ano de silente contemplação do milagre da criação e cuidadosa proteção da mãe natureza.
Faço votos de que em 2011 a cegueira apague nossas fúteis ilusões e que brotos de saudáveis quimeras palmilhem a estrada que conduz ao mais íntimo de nós mesmos. Seja para nós um ano de muita fortuna, inflado de projetos promissores, destituído de mesquinharias e perjúrios.
Ano bom é o que traz efervescência espiritual, o vinho a inebriar-nos do sagrado, a alma tecida de alegrias inefáveis, os passos movidos pela vontade alada, o vigor juvenil de quem não encara a velhice como doença. Ano de reavivar antigas amizades, libertar-se dos apegos vorazes, trocar a tagarelice pelo aconchego reflexivo dos livros e deixar a música inundar nossos mais recônditos sentimentos.
Ano-novo é o que transfigura nossas mais secretas intenções e projeta luz nas veredas escavadas por cada uma de nossas positivas atitudes. Assim, haverão de cair as escamas de nossos olhos, os ouvidos acolherão a melodia sideral, o perfume do otimismo nos inebriará, e de nossos lábios brotarão cânticos de aleluia.
Para ti e para mim seja o ano de 2011 ninho de férteis esperanças e senda primaveril rumo a outros mundos possíveis. À mesa, a gratuidade inconsútil; à porta, nossas resistências desarmadas; à sala, um rumor de anjos. E seja toda a casa reduto de sabores e saberes agradáveis ao paladar e à inteligência.
Seja novo, para ti e para mim, o ano entrante, não por reiniciar a sucessão de meses, semanas e dias, e sim por revitalizar nossos bons propósitos, livrar-nos da letargia frente aos desafios espelhados na utopia e arrancar de nosso âmago toda erva daninha semeada por ambições desmedidas.
Novo por incutir em nós a modéstia translúcida de avós afetuosas, o fervor espiritual dos místicos, a exuberância dos bailarinos a multiplicarem as potencialidades do corpo. Ano de romper barreiras do preconceito, derrubar cercas da ganância, fertilizar com sementes altruístas o chão no qual pisamos.
Para ti e para mim, um feliz ano-novo no qual a vida seja diariamente celebrada como dom de Deus, dádiva amorosa, encantadora aventura.
Ao longo deste ano esteja sempre presente, em nossas mentes e em nosso agir, que viver é muito perigoso.

E Lá Se Foi Uma Década!

Estou fechando o ano e a primeira década do século XXI na praia da Almada, no litoral de São Paulo, em Ubatuba, uma das últimas praias antes da divisa com o Rio de Janeiro.
Hoje, voltando da praia, fiquei imaginando o que vai acontecer nessa próxima década que vamos iniciar amanhã.
Essa será a década da digitalização!
Nesses próximos 10 anos o ser humano e toda a sociedade será digitalizada.
Um exemplo simples são os automóveis. Até o final da década todo veículo terá um chip e assim, não será necessário qualquer outro documento do veículo. Quando um policial te parar, com um simples acesso pelo celular, ipad ou mesmo um relógio, ele terá todas as informações do veículo desde o dia que ele foi fabricado.
Isso também acontecerá com os animais, os produtos de uma forma geral e até com os seres humanos por simples opção. Imagina que poderemos ter um chip de tamanho insignificante no nosso corpo, numa corrente no pescoço ou braço e até na obturação de um dente.
Se acontecer qualquer tipo de acidente, os médicos ou qualquer um que estiver te socorrendo poderá acessar todas as informações sobre a sua saúde e até com quem deve falar para informar o fato.
Esse mundo digitalizado de que estou falando é algo que já existe e vem acontecendo há mais de 30 anos, mas agora, nessa década, vamos chegar ao primeiro passo da digitalização total.
A banda larga vai chegar a todos os rincões do planeta. Quem não tiver nenhum acesso pessoal irá acessar por intermédio de seus próximos.
De maneira muito simples, qualquer ser humano poderá comprar uma caneta do outro lado do mundo e receber em sua casa. Assim como, será quase banal você pesquisar na Biblioteca do Congresso Americano ou na Casa de Cultura de Cuba sem sair da varanda da sua casa.
Se você for inteligente e decidido, poderá estudar nas princípais escolas e faculdades do mundo, recolhendo o conhecimento e a sabedoria de tudo que te interessa e debatendo os assuntos em tempo real.
Repito, tudo isso já existe e está sendo praticado, mas agora, nessa próxima década, com a digitalização vai acontecer a democratização ao acesso.
Na última década o crescimento atingiu o seu ponto máximo de rápidez e agilidade, estamos crescendo no terreno do mundo digital com a capacidade de dobrar a velocidade a cada 2 anos. Nessa próxima década devemos atingir o nível de dobrar a cada 12 meses.
Voltando aos veículos, imagine como será fácil controlar o trânsito de uma cidade, grande ou pequena, de uma central de computação que enxerga toda a cidades, com ruas, avenidas, pontes, semáforos e todos os veículos em tempo real. No dia  em que o seu veículo não puder circular, será possível desligá-lo do painel da rede.
Outra coisa muito interessante será a possibilidade de a população resolver por plebicitos ou até por proposição de uma nova lei, como aconteceu com a lei da Ficha Limpa. Com a digitalização nesse nível que vamos atingir, poderemos votar todos os dias se for necessário.
Se for algo urgente, em poucas horas, via redes sociais, twiters e mensagens via fone você consegue mobilizar uma quantidade tão grande de pessoas que com uma assinatura digital pode aprovar e colocar uma lei em votação.
É lógico que isso acontecerá com muita resistência e com a criação de leis que vão reger tudo isso, mas a digitalização é inevitável.
As escolas, professores, alunos, curso, matérias, tudo será beneficiado se existir um projeto sério de mudança, pois virão à luz mediante a digitalização as possibilidades reais de educar uma sociedade de maneira eficiente com uma rapidez nunca antes imaginada.
Enfim, acredito que a segunda década desse novo século e milênio será oficialmente a década da confraternização universal pela comunicação digital. O acesso será universal e muito simples.
Ainda  pensando aqui, na praia da Almada, acho que no final de 2020, na estrada, bem na entrada para o trajeto que levará até os 300 metros de praia, em plena Mata Atlântica, existirá um portal com informações completas sobre a região e uma permissão de acesso de pessoas e veículos, controlados por chips e informações capturadas por seus sensores digitais.
Estaremos vivendo um grande Big Brother?
Não sei, mas saberemos em breve, afinal, parece que foi ontem a virada do milênio e agora, já se foi uma década.
Feliz 2011 e nova década a todos.
Lau Baptista