domingo, 13 de setembro de 2009

Praça 7

Praça é uma palavra curiosa, cheia de significados.
No jargão militar, é masculina - sem patente.
No financeiro, uma comunidade inteira. Os inadimplentes ficam com o nome sujo na praça. Gente boa já foi "boa praça", mas como a vida, a língua é dinâmica. Expressões se tornam ultrapassadas, caem em desuso e até no esquecimento.
No entanto, as mudanças não conseguiram ainda tirar o encanto da mais democrática das praças - a praça pública. A gente logo associa a jardim, área livre. Ninguém precisa pagar para fazer hora na praça, ler, namorar ou caminhar por ela.
Quando ganham nome e sobrenome - Praça Camões, Praça XV de Novembro, Praça 7 de Setembro - passam a ser endereço, adquirem personalidade. Quando conheci a Praça 7, tinha 8 anos. Descobri o coreto, a mais espaçosa e agradável casa de boneca. E que ainda virava palco para apresentação da banda, aos domingos.
A praça 7 me parecia enorme. Hoje vejo que é mesmo. E com árvores frondosas. Tem até Pau-Brasil. Com o passar do tempo, as praças vão acumulando histórias e algumas entram pra história da gente. Na perpendicular, a praça 7 era atalho perfeito entre a Campos Sales e a Florêncio de Abreu. De vez em quando, eu encompridava o caminho até o Otoniel Mota só para passar por ela e começar o dia ouvindo passarinhos. Mais tarde, várias vezes cabulei , na praça, a primeira aula do cursinho só pra não chegar atrasada e ter que enfrentar o coro malicioso dos rapazes.
Longe de Ribeirão, não a freqüento faz tempo. Andei perguntando por ela. Todo mundo reconhece que a praça 7 é um clássico, linda!
Soube que aos domingos tem feira de arte e artesanato. E uma vez por mês, serenata. Muita gente ainda faz caminhada por lá, lê jornal, namora, vê a vida passar de um banco da praça...Mas, também ouvi opiniões desabonadoras. Há quem diga que a praça 7 está degradada e conforme o horário, perigosa.
Seria a praça que mudou? Ou fomos nós - sociedade em busca ...do quê mesmo? Do progresso? Do crescimento econômico? Do avanço tecnológico? Das descobertas científicas? Que tal nos empenharmos também em resgatar a convivência civilizada na praça, espaço público simbólico - e como a própria palavra, cheio de significado.
Texto de Luciana Bistane publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

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