sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Casa Preta, Às Ordens

No final dos anos 60, um grupo carioca escolheu a região do alto da cidade para implantar ali, tal qual no Rio de Janeiro, o Bairro do Alto da Boa Vista. Sua localização permitia uma exuberante vista da cidade e, ao longe, até dos municípios vizinhos.
Foi então que na esquina da avenida Paissandu com a rua Sinhá Junqueira adquiri um terreno onde me dispus a edificar minha casa. Recém-casado com uma carioca de muito bom gosto, escolhemos um projeto arquitetônico no estilo normando, muito comum na região de Petrópolis. Quando começamos a obra, éramos a última casa da cidade, no meio de um enorme descampado, cortado por desertas ruas asfaltadas. Marília e eu havíamos visto e gostado, também, de uma pintura marrom-café que vestia muitas casas da região serrana do Rio. E foi assim que pintamos a nossa casa.
De longe, o marrom-café confundia-se com o preto e não tardou muito para que o local ficasse conhecido como o da “Casa Preta”. A curiosidade acabou levando todos os dias muitas pessoas para conhecer a nossa casa. Algumas só olhavam. Outras sentavam na gradinha e se deixavam fotografar. E outras, mais ousadas, pediam para ver por dentro. A romaria virou uma história e muitas outras histórias... Um dia o DAERP instalou na frente da casa a Caixa d’Água do Sumaré. Com essa nova referência, o ponto ficou mais fácil de achar. Como eu trabalhava com cinema, o imaginário popular começou a inventar coisas como “lá mora o cineasta Zé do Caixão”, “as festas são macabras, inenarráveis...”
Já se passaram mais de 40 anos, o bairro foi totalmente povoado e a cidade quase alcança Bonfim Paulista, mas as fantasias sobre a Casa Preta perduram. Quando alguém me dá uma carona ou me visita pela primeira vez, não é incomum uma manifestação de surpresa: “Nooosssa! Você mora aí, na Casa Preta! Sempre tive uma vontade enorme de conhecê-la!”
Texto de Edgard de Castro publicado no Guia Sul de Ribeirão - Edição Dez 2007

Um comentário:

  1. Moradora da região desde pequena, durante minha infância acompanhei bem o imaginário popular sobre a "Casa Preta". Eu também tinha minhas fantasias de criança sobre aquela bela casa a dificuldade era enternder porque alguém teria pintado uma casa tão bonita daquela cor tão escura. Apesar da cor pouco usual em nossa região reconheço que ficou bonita. A casa preta faz parte da minha infãncia. Valéria

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