terça-feira, 8 de setembro de 2009


Meu pai morou em Santos por muitos anos. Logo que mudamos para lá, ele montou o seu consultório no bairro Vicente de Carvalho, que fica ali, logo quando você sai da balsa em direção ao Guarujá. Todos os dias, ele atravessava a entrada do porto de Santos nas balsas, que existem até hoje, no período da manhã indo para o consultório e entre 19 e 21 horas voltava, dependendo dos atendimentos na sua Clinica Dentária.
Uma noite, chovia muito, estava frio e quando chegamos a Santos, tinha muita gente, os ônibus estavam lotados, não tinha táxi e tivemos que ficar ali na espera, loucos para chegar em casa. Nós nos acolhemos na marquise de um bar e ficamos observando aquela multidão. Meu pai saiu de perto e quando vejo, ele estava tirando a sua jaqueta e dando para uma pessoa que estava ali na rua ensopado.
Eu fiquei atordoado. Poxa, meu pai, um senhor, ali tomando chuva, passando frio e, o bêbado que já estava ensopado se aquecendo na jaqueta nova dele.
Com toda minha sabedoria, cheguei perto dele, numa mistura de condoído pela friagem que passava e, ao mesmo tempo, indignado com aquela atitude, e falei:
– Pai, se o senhor quer fazer uma boa ação, traga um casaco velho ou uma jaqueta e dê para esses bêbados que estão todos os dias por aí. Falei incomodado, meio como um conselheiro, tentando dizer que não precisava estar passando frio, correndo o risco de pegar uma gripe e etc.
Ele passou a mão nos braços que estavam molhados, sorriu como se estivesse gostando de tomar chuva e passar frio e falou:
– Meu filho, já, já vou chegar em casa, tomar um banho quente, uma bela sopa e dormir debaixo de um cobertor bem gostoso, abraçado na sua mãe. Agora, eu senti vontade de dar o casaco e dei, só isso. É bom, experimente, quando você sentir vontade de dar o seu casaco, dê! E, completou: Ah, me lembra de ver com a sua mãe se tem alguns cobertores ou casacos pra trazer amanhã.

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