Metáforas ardentes
Escrever é pastorear palavras,
da aurora à insônia,
sem descanso.
Nesse ofício,
há quem viva na abastança,
senhor de largos rebanhos,
latifundiário de letras preferenciais ao portador.
A maioria vive à míngua,
forçada a caçar palavras
abaixo da linha da pobreza
onde vicejam as flores negras da miséria.
Criador remediado, graças a Deus,
um pé na roça, outro na cidade,
todos os dias levo minhas parcas idéias
à estância da fantasia
em busca do essencial:
ar puro, seiva verde, alguma flor e os frutos da estação.
As idéias se nutrem ou não,
tanto faz, o que importa
é atravessar o campo,
sem cercas nem porteiras,
no tempo líquido e certo, enquanto há luz o horizonte.
Ao anoitecer as conduzo,
mansas ou ariscas,
saciadas ou famintas,
mas sempre cansadas,
ao aprisco inglório: a lata de lixo da história.
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