No final de semana, chega-me o exemplar do novíssimo "Notícias da Matilha", romance do jornalista Luiz Augusto Michelazzo, boa produção da Editora Coruja, de Lau Baptista.
Vem cheirando a pão fresco e já o folheio, tomando no rosto o vento das redações de passado recente. Embates entre sindicalistas e policiais, disputas hierárquicas e um grande vázio existencial. Não, definitivamente não havia ar fresco. Fumar na cara dos outros era normal e tinha quem acendesse um cigarro no outro. Sem pudor, nem cobranças.
O Michelazzo, escriba do tempo em que texto tinha que ser bom, não ameniza nada. Tem lá seu jeito Henry Miller de dissecar a sexualidade humana, mas com um erotismo eivado de indisfarçável lirismo - o mesmo que se vê nos livros de Roberto Freire. Alguém ainda se lembra de "Cléo e Daniel"? Pois o Michelazzo também faz o seu "Daphnis e Chloe" dentro de uma grande redação de jornal, na cinzenta Pauliceia.
É o romance de uma geração amarga, que busca inutilmente a inocência, num tempo em que jornalismo e bar eram indissociáveis. Beber à Vinicius de Moraes não só era prazeroso, como obrigatório para qualquer intelectual.
Ainda não acabei de ler o livro. Mas já mexeu comigo. Nos tempos de agora, em que as ideologias estão sepultadas e o álcool, com razão, é o novo vilão número 1, Michelazzo faz um resgate visceral e o joga sobre nossas cabeças, à sua maneira. O mundo mudou, as redações também, mas Michelazzo, sempre um provocador, não desiste de si mesmo. Ainda bem.
Texto de Rosana Zaidan públicado no dia 02 de agosto de 2011 na página 2.
Mais Informações sobre o livro no site www.editoracoruja.com.br
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